Oração de um cão abandonado “Sabe Senhor, ainda não entendi, viemos à praça, pensei ser um passeio, estranhei, ele não tinha esse hábito, mas vim, feliz. Aqui chegando, deu as costas, entrou no carro, e nem disse adeus. Olhei para os lados, nem sabia o que fazer – ainda tentei segui-lo e quase fui atropelado. O que teria feito de tão mau? À noite, quando ele chegava, eu abanava o rabo, feliz, mesmo que ele nunca viesse me ver no quintal. Às vezes eu latia, mas havia estranhos no portão, e eu não poderia deixar entrar sem avisar meu dono. Quem sabe foi a mando de minha dona, por eu estar lhe dando trabalho. Não foram as crianças: elas me adoravam, e creio que nem sabem o que aconteceu – devem ter-lhe dito que eu fugi. Como sinto saudades! Puxavam-me a cauda, às vezes eu ficava uma fera, mais logo éramos amigos novamente. Estou faminto, só bebo água suja, meus pelos caíram quase todos. Nossa, como estou magro! Sabe Pai, aqui neste Canto que arrumei para passar a noite...